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domingo, 14 de outubro de 2018

Educação Física e Pluralidade Cultural


A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. 
Este tema propõe uma concepção da sociedade brasileira que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que a compõe, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas, e apontar transformações necessárias. Considerar a diversidade não significa negar a existência de características comuns, nem a possibilidade de constituirmos uma nação, ou mesmo a existência de uma dimensão universal do ser humano.
Pluralidade Cultural quer dizer a afirmação da diversidade como traço fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente, e o fato de que a humanidade de todos se manifesta em formas concretas e diversas de ser humano.
Por trabalhar com a diversidade humana, comporta uma ampliação de horizontes para o professor e para o aluno, uma abertura para a consciência de que a realidade em que vivem é apenas parte de um mundo complexo, fascinante e desafiador, na qual o elemento universal subjacente e definidor das relações intersociais e interpessoais deve ser a Ética.
Propicia, ainda, a percepção de que essa característica sociocultural é expressão de uma pluralidade dinâmica para além das fronteiras do Brasil, a qual tem sido benéfica e estimuladora na definição de valores universais.
Oferece, também, elementos para a compreensão de que respeitar e valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do outro, mas, sim, respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação.
É importante, ao tratar este assunto, fazer-se a distinção entre diversidade cultural, a que o tema se refere, e desigualdade social.
As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos, etc.
A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada grupo social. A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira não se pretende deixar de lado essa questão.
Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível compreendê-la sem recorrer ao contexto social em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulação e resistência.
Ambas, desigualdade social e discriminação, se articulam no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade, e de participação na gestão coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. Por esse motivo, já se disse que, na prática, o Brasil não é uma sociedade regida por direitos, mas por privilégios.
Os privilégios, por sua vez, assentam-se em discriminações e preconceitos de todo tipo: socioeconômico, étnico e cultural. Em outras palavras, dominação, exploração e exclusão interagem; a discriminação é resultado e instrumento desse complexo de relações.
Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito, que contradizem os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil tem produzido também experiências de convívio e da interetnicidade, a reelaboração das culturas de origem, constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro.

A pluralidade cultural existente no Brasil é fruto de um longo processo histórico de interação entre aspectos políticos e econômicos, no plano nacional e internacional. Esse processo apresenta-se como uma construção cultural brasileira altamente complexa, historicamente definida e redefinida continuamente em termos nacionais, apresentando características regionais e locais. Coexistem aqui culturas singulares, ligadas a identidades de origem de diferentes grupos étnicos e culturais.
Essa composição cultural tem se caracterizado por plasticidade e permeabilidade, incorporando em seu cotidiano a criação e recriação das culturas de todos esses povos, sem diluí-las, ao mesmo tempo que permite seu entrelaçamento. Nesse entrelaçamento de influências recíprocas, configura-se a permanente elaboração e redefinição da identidade nacional, em sua complexidade.
Convivem hoje no território nacional cerca de 206 etnias indígenas, guardando, cada uma delas, identidade própria, representando, em si, riquíssima diversidade sociocultural, além de uma imensa população formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo igualmente numeroso de imigrantes e descendentes de povos originários de diferentes continentes, de diferentes tradições culturais e de diferentes religiões.
A própria dificuldade de categorização dos grupos que vieram para o Brasil, formando sua população, é indicativo da diversidade. Mesmo para a elaboração de um simples rol, é difícil escolher ou priorizar certo recorte, seja continental ou regional, nacional, religioso, cultural, lingüístico, racial/étnico.
A diversidade marca a vida social brasileira. Encontram-se diferentes características regionais, diferentes manifestações de cosmologias que ordenam de maneiras diferenciadas a apreensão do mundo, formas diversas de organização social nos diferentes grupos e regiões, multiplicidade de modos de relação com a natureza, de vivência do sagrado e de sua relação com o profano.
O campo e a cidade propiciam às suas populações vivências e respostas culturais muito diferenciadas que implicam ritmos de vida, ensinamentos de valores e formas de solidariedade distintas. Os processos migratórios colocam em contato grupos sociais com diferenças de fala, de costumes, de valores, de projetos de vida.
E. F. e o Tema Transversal Pluralidade Cultural
Desde sua introdução no país como ginástica e sua efetivação como componente curricular, a Educação Física foi direcionada, teorizada e utilizada de diversas formas. Em 1851 com a Reforma Couto Ferraz, a Educação Física é introduzida oficialmente nas escolas do município da corte e a partir de então passou por várias mudanças de concepções devido às influências políticas e sociais (Betti, 1991).
Assim, ao longo de sua história a E. F. foi utilizada para: melhorar os hábitos higiênicos e consequentemente a saúde da população, valorizando o desenvolvimento do físico e da moral a partir do exercício; formar indivíduos capazes de defender a nação; fortalecer o trabalhador para melhorar sua capacidade produtiva; alienação política por meio dos esportes; gerar atletas de alto nível para competições internacionais; propaganda nacional, pelo êxito em tais competições; melhora da aptidão física; e desenvolvimento psicomotor do aluno (BRASIL, 1998).
Em oposição a estes modelos biológicos e tecnicistas surgem várias tendências que direcionam a Educação Física como componente curricular, disciplina acadêmica e área profissional. Nas escolas passou-se a discutir além de seus benefícios físicos, seu papel na sociedade e na política, já que está incluída na teoria da educação nacional que visa formar alunos críticos capazes de se sentirem responsáveis pelo seu país.
Dentro deste contexto surgem os PCNs (BRASIL, 1997b) que propõem uma prática educativa diferenciada, apresentando novas dimensões para o trabalho da Educação Física na escola.
Segundo tais parâmetros, a Educação Física deve ser trabalhada não somente em seus aspectos técnicos e fisiológicos, mas também nas suas dimensões cultural, social, política e afetiva. Logo, esta abordagem entende a Educação Física na perspectiva da cultura corporal.
Tudo o que foi produzido corporalmente (danças, jogos, lutas, ginásticas, capoeira e esportes) são “conhecimentos historicamente e socialmente transmitidos” (BRASIL, 1997b, p. 23).
Propondo ao professor que desperte no aluno um novo olhar (crítico) para a sociedade na qual está inserido, pois este nasce no contexto de uma cultura, ajuda a produzi-la e a modificá-la, cumprindo assim seu papel de cidadão.
Na visão de Daólio (2004, p.2), “a cultura é o principal conceito para a educação física, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução até hoje, expressando-se diversificadamente e com significados próprios no contexto de grupos culturais específicos”.
Além deste, autores como João Batista Freire, Go Tani, Elenor Kunz, Valter Bracht, Mauro Betti e o Coletivo de Autores discutem e reconhecem a Educação Física como cultura, porém cada um se fundamenta e parte de pressupostos diferentes. Deste modo, atualmente, esta concepção cultural é relevante na Educação Física, pois rompe com a visão restritamente biológica do corpo agregando e considerando seus aspectos psicológicos, fisiológicos e sociológicos.

Paulo Vicente - Personal Trainer





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