Pessoal, olha que bacana o que saiu no site da GLOBO sobre atividade física e Alzheimer. RIO — O poeta romano Décimo Júnio Juvenal, a quem é atribuída a
máxima “Mens sana in corpore sano” (Mente sã num corpo
saudável) não pensou no tratamento de doenças neurológicas e
psiquiátricas quando a escreveu. Juvenal estava mais interessado em
criticar aqueles que rogavam aos deuses por coisas tolas em vez de
orar por uma boa saúde. Mas a vanguarda de estudos de neurociência
mostra que ele foi involuntariamente profético. Hoje, exercícios
físicos começam a ser incluídos no tratamento de pessoas com
doenças neuropsiquiátricas, como o mal de Alzheimer e a síndrome
do pânico. E os resultados são animadores.
Outras pesquisas derrubam ainda o mito de que as pessoas mais
inteligentes são aquelas dedicadas apenas a atividades intelectuais,
do tipo que faz tudo sentado. Pesquisas em escolas americanas
demonstram que os alunos que se saem melhor em ciências e
matemática, por exemplo, são aqueles que se exercitam mais.
O mal de Alzheimer cresce no mundo à medida que a população
envelhece, mas não tem tratamento farmacológico eficaz. Hoje, é a
principal forma de demência em idosos. Mas uma pesquisa realizada na
Unicamp indica que o exercício é um aliado poderoso, capaz de
melhorar funções do cérebro e aumentar a qualidade de vida de
pessoas com a doença.
O estudo que faz parte da tese de doutorado
da especialista em ciência do esporte e neurociência Camila Vieira
Ligo Teixeira, do Laboratório de Neuroimagem e Física Médica da
Unicamp, oferece resultados significativos. Após seis meses de
treinamento com exercícios, um grupo de 25 pacientes com uma forma
leve de Alzheimer obteve melhora clínica, com menos estresse, apatia
e depressão.
CAPACIDADES RESTAURADAS
Os pesquisadores empregam a associação de avaliações clínicas a
exames sofisticados, como a tractografia, capaz de analisar as
conexões e a integridade dos neurônios. Este exame mostra se
funções nervosas perdidas pela doença foram recuperadas. Segundo
Camila, o exame identificou a remielinização dos neurônios — em
bom português significa que a capa protetora das células nervosas,
importante para a comunicação de sinais do cérebro, foi restaurada
em parte:
— Nosso estudo sugere que o exercício ajuda a recuperar a
comunicação entre as células afetadas pela doença. Observamos uma
melhora da função executiva do cérebro. É ela que nos ajuda a
planejar. Inclusive coisas simples, como tomar banho e fazer café.
Essa função é muito comprometida pelo mal de Alzheimer. Os
pacientes voltaram a fazer coisas que já não podiam mais. A atenção
também melhorou.
O grupo de pesquisadores, que inclui ainda educadores físicos,
geneticistas, cardiologistas e outros profissionais, ofereceu aos
pacientes — homens e mulheres dos 60 aos 82 anos — atividades
como caminhada, futebol, vôlei, tênis e, para alguns, até corrida.
A intensidade era variável em função do estado do paciente e
aumentava progressivamente. Como o estudo avaliou dados de apenas
seis meses de treinamento, ainda será preciso mais tempo para saber
se houve ganhos de memória significativos. Camila está otimista de
que haverá. Seu otimismo se baseia em pesquisas básicas realizadas
em laboratório. São estudos como os da neurocientista Clarissa
Schitine, do Laboratório de Neuroanatomia Celular do Instituto de
Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. Clarissa estuda a
neurogênese, a capacidade do cérebro de formar novos neurônios. Há
cerca de duas décadas, achava-se que os neurônios perdidos não
eram repostos. Agora, se mostra que os exercícios são capazes de
estimular o desenvolvimento de novos neurônios. Em animais, está
comprovado.
Os neurônios nascem em áreas profundas do cérebro, o hipocampo e a
zona subventricular. O hipocampo está ligado à memória e, por
isso, o exercício é visto como aliado para combater a perda de
memória associada ao estresse, ao envelhecimento e a doenças. O
exercício atua sobre a gênese da proliferação de neurônios. Ele
faz isso ao aumentar a produção de uma substância chamada BDNF,
uma espécie de tônico cerebral, que favorece a formação, a
proliferação e a comunicação dos neurônios. É um efeito
semelhante ao produzido por drogas antidepressivas.
— O exercício aumenta tanto a expressão gênica quanto a proteína
do BDNF. Essa substância é extremamente importante, ela estimula a
plasticidade dos neurônios. Isto é, a capacidade de lembrar e
aprender coisas, por exemplo — explica Clarissa.
Em animais, quatro semanas após o início do treinamento aeróbico
já é observado desenvolvimento de neurônios.
— Em seres humanos, esse efeito parece levar de três meses a seis
meses. É muito animador, porque os exercícios não têm efeitos
colaterais e proporcionam uma série de benefícios à saúde — diz
Clarissa.
Ela destaca que o exercício atua também sobre a perda de memória
associada ao envelhecimento:
— Não só ele previne, quanto ajuda a reverter. Em animais está
comprovada a ação benéfica em doenças como Parkinson e Alzheimer.
Em seres humanos há importantes indícios e novos estudos prometem
trazer boas novidades.
Ela lembra que o uso de exercícios como tratamento da depressão já
é uma forte tendência, pois a atividade física de moderada a
intensa libera neurotransmissores importantes, como a dopamina.
Uma pesquisa publicada ontem na revista científica “PLOS Biology”
apresenta ainda mais provas da força do exercício no cérebro.
Pesquisadores do The Jackson Laboratory, no Maine, EUA, viram que
correr regularmente ajuda a reduzir mudanças na estrutura do cérebro
relacionadas ao envelhecimento. Essas alterações provocam
inflamações, que podem levar à demência na velhice.
Gareth Howell, principal autor, diz no artigo que o exercício se
firma como potente aliado contra o envelhecimento do cérebro, mas
destaca que a atividade física precisa ser regular, de moderada a
intensa, e por toda a vida.
Paulo Vicente - Personal Trainer