Sabia que nós professores temos nossa voz mais exigida do que cantores ??? Veja nesta matéria como cuidar de nossa principal ferramenta de trabalho.
A matéria abaixo refere-se a professores de sala de aula, mas aplica-se perfeitamente ao nossa trabalho, principalmente se não utilizarmos o microfone.
Todo ser humano possui uma voz única que, além de mera ferramenta
de comunicação, carrega traços de sua faixa etária, sexo, tipo
físico, personalidade e estado emocional. Para alguns, no entanto,
ela representa muito mais do que isso. Professores, atores,
repórteres, cantores e outros profissionais têm na voz uma
indispensável ferramenta de trabalho, e precisam estar atentos aos
cuidados que devem adotar para não prejudicá-la.
É claro que todo mundo deve se preservar. Quem nunca saiu rouco do
estádio após um jogo de futebol, ou de um show da sua banda
favorita? Mas profissionais que utilizam a voz ficam sujeitos a
deslizes comportamentais na propagação vocal com mais frequência.
O som que produzimos vem do ar que expiramos dos pulmões.
Simplificando o processo, esse ar passa pelas pregas vocais na
laringe, que vibram e o transformam em pulsos sonoros. Quando existe
um problema nas cordas vocais, essa vibração se torna defeituosa, o
que é chamado de disfonia. “A maioria dos problemas é causada por
desequilíbrios e abusos vocais, além do excessivo e mau uso da
voz”, explica Kelly Cristina Silverio, professora do Departamento
de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB). “As
lesões mais recorrentes são o aparecimento de nódulos vocais,
cistos intracordais, edemas e fendas glóticas.”
Professores e cantores
A ocupação mais afetada é a de professor. É comum ouvir relatos
clínicos nessa categoria como “sou rouco porque sou professor”
ou “minha voz fica melhor nas férias”. Uma pesquisa em âmbito
nacional realizada em 2010 pelo Sindicato dos Professores de São
Paulo, em parceria com o Centro de Estudos da Voz, questionou 3.265
pessoas a respeito do assunto, das quais 1.651 eram docentes. O
resultado revelou que cerca de 63% dos professores já sofreram de
alguma alteração vocal, em comparação com apenas 35% da população
em geral. Entre as principais disfonias relatadas pelos profissionais
estão o cansaço vocal (92,8%), rouquidão (82,2%) e dificuldade
para projetar a voz (82,8%).
“No caso de professores, as alterações emocionais decorrentes dos
problemas de voz, somadas ao stress ligado à ocupação – rotina
desgastante, falta de reconhecimento da profissão, fatores
organizacionais do trabalho, carga horária excessiva, ambiente
ruidoso, entre outros – podem ainda piorar ou perpetuar o quadro da
disfonia”, completa. Segundo a professora, um bom modo de evitar o
problema é o uso de microfone em sala de aula. No entanto, nem toda
escola ou universidade oferece tal infraestrutura aos seus
funcionários.
A profissão de cantor também exige muito da voz, e de uma maneira
diferente. Os movimentos do canto são sofisticados, precisos, e
precisam ser controlados com perfeição. Para tanto, é necessária
boa saúde vocal. “A voz é um instrumento musical que anda, fala,
tem depressão, chora. Isso tudo interfere”, declara a
fonoaudióloga e musicista Beth Amin, orientadora de técnica vocal
do Coralusp.
Segundo ela, é importante que o cantor exercite sua voz com
regularidade. Para alcançar notas muito agudas, por exemplo,
utiliza-se uma musculatura que quase não é acionada no dia a dia
vocal. Se isso é feito com muito esforço, sem treino, a pessoa pode
acabar danificando suas cordas vocais.
“O cantor lírico deve ter um cuidado ainda maior. A voz dele tem
que ser sempre limpa, cristalina. A do popular pode ter
características como rouquidão, soprosidade, o que para o lírico
seria fim de carreira”, acredita a orientadora.
Tratamentos e cuidados
Uma vez instalado o problema de voz e manifestadas as alterações –
rouquidão constante, dor ou ardência na garganta, falta de ar ou
cansaço ao falar, dificuldade para ser entendido, entre outras
alterações –, o sujeito deve buscar um médico
otorrinolaringologista, para realizar uma avaliação da laringe, e
um fonoaudiólogo. Este é capaz de avaliar a voz, associar o
diagnóstico do otorrino e tratar a alteração presente caso o
problema seja decorrente do comportamento vocal inadequado.
Durante o tratamento, algumas orientações sobre saúde vocal são
fornecidas ao paciente com o intuito de promover mudanças em sua
rotina. A hidratação é um exemplo. Um organismo bem hidratado
propicia maior lubrificação da laringe, resultando em menor esforço
à fonação. A fonoaudióloga Kelly explica que isso vale para
qualquer tipo de profissão que exige muito da voz, não só para
cantores. “O ideal é ingerir pelo menos dois litros de água por
dia”, comenta. Ela esclarece que não adianta beber um monte de
água logo antes do exercício profissional. Deve ser algo presente
no cotidiano.
“Na última sexta-feira eu fui cantar no colégio Santa Cruz, em
Pinheiros”, conta a orientadora de técnica vocal do Coralusp.
“Antes, tive que carregar teclado, amplificador, um monte de coisa,
e acabei transpirando bastante. À noite, na hora de cantar, senti os
reflexos disso e enfrentei algumas dificuldades em determinadas
partes do repertório.”
O regime alimentar também é observado. Se mal balanceado, pode
afetar a voz por causa da subida do suco gástrico para a laringe e a
faringe, o chamado refluxo gastroesofágico. Quando ocorre, traz
sintomas de laringite – rouquidão, pigarro, tosse seca, dor de
garganta, entre outros. Segundo Kelly, deve-se evitar laticínios,
chocolate, alimentos condimentados e gordurosos e café antes do uso
profissional da voz.
Além disso, o próprio modo com que a pessoa está acostumada a
falar é trabalhado. “É importante ensiná-la a ter outro
comportamento vocal”, diz Beth. “Muitas pessoas falam mal: com
forte intensidade, gritando, tudo na garganta, com tensão. Dessa
maneira, existe um acúmulo de esforço que prejudica a voz.”
O fonoaudiólogo oferece ainda ao paciente exercícios para
fortalecer a resistência vocal, que devem ser repetidos diariamente
em casa. A professora da FOB ressalta que cuidar de processos
alérgicos também é essencial para que a voz se equilibre.
“É importante ressaltar que as recomendações, embora gerais,
devem ser individualizadas e adaptadas da maneira que couber a cada
um”, destaca Kelly. “O importante é respeitar os limites de cada
profissional, agir na direção de ganhar resistência muscular e
vocal para que a disfonia dê lugar a uma voz equilibrada.”
Paulo Vicente - Personal Trainer