Quando Wayde van Niekerk cruzou a linha de chegada - quebrando o
recorde mundial dos 400m rasos - a reação de uma senhora na
arquibancada chamou a atenção de todo mundo. Ela era Anna Sofia
Botha, treinadora que já é uma lenda viva do atletismo na África
do Sul. Só que quando Anna desceu para a pista, a fim de abraçar
seu pupilo, ela foi barrada pelos seguranças do Engenhão. Eles não
imaginavam que aquela senhorinha era a treinadora do corredor! "Havia
seguranças em todas as entradas e eles simplesmente não me deixavam
passar", disse ela, em entrevista ao The New York Times.
Gafes à parte, de fato é uma surpresa saber que Anna, aos 74 anos,
segue firme e forte, treinando corredores de alta performance na
University of the Free State, em Bloemfontein, a capital jurídica da
África do Sul. Ela nasceu na Namíbia e trabalha com isso há quase
50 anos, mas conta que ainda não pensa em aposentadoria. "Você
nunca fica velho demais para aprender. Eu continuo amando o que faço
e continuo amando os meu atletas. Então eu não vejo motivos para eu
me aquietar e ficar em casa brincando com meus dedos", declarou.
Wayde van Niekerk quebrou um dos recordes mais antigos do atletismo em Jogos Olímpicos e ele conta que Anna teve um papel determinante
nessa conquista. "Ela é uma mulher maravilhosa e desempenhou um
papel enorme para fazer com que eu estivesse aqui hoje. Ela me
manteve muito disciplinado e focado nessa jornada", contou o
medalhista. Também foi Anna quem decidiu que van Niekerk passaria da
categoria de 200m para a de 400m. E ela apostou certíssimo! A
treinadora é conhecida por todos como Tannie Ans (que significa
Titia Ans, em afrikaans) e seus pupilos a definem como uma mulher
extremamente exigente, mas com um coração gigante. "Ela nos
trata como se fossemos seus filhos", conta o recordista. Durona,
mas sem perder a ternura, bem com aquele jeitinho de avó que a gente
conhece bem. E Anna já é bisavó, inclusive!
Mesmo treinando corredores desde 1968, essa é a primeira Olimpíada
da treinadora. E, apesar de ser a veterana que é, ela não acredita
que deve ser tratada de forma diferente por conta da idade. Anna,
inclusive, respondeu com espanto aos jornalistas que queriam saber
tudo sobre sua história depois da corrida de van Niekerk. "Ser
treinadora é o que eu faço no meu dia a dia. Não é algo inovador,
é apenas algo normal".
Ao final, não tem como ficar indiferente à história da bisavó que
conquistou a todos no Rio de Janeiro. Anna é a prova viva de que
nunca é tarde para seguir confiando em si mesma, com boas doses de
persistência e colocando o coração em tudo o que a gente faz. Vida
longa a essa maravilhosa!
Paulo Vicente - Personal Trainer
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