LONDRES - Quatro mortes no Reino
Unido e até 60 outras no mundo foram atribuídas à substância
2,4-dinitrofenol (DNP), composto químico popular
entre bodybuilders e pessoas com transtornos
alimentares. Mas o DNP não é novo e seus efeitos letais são
conhecidos por um século: o primeiro uso deste princípio ativo em
escala industrial aconteceu na França, durante a Primeira Guerra
Mundial, na produção de explosivos. Os trabalhadores expostos ao
DNP apresentaram perda de peso, fadiga, suor excessivo e alta
temperatura corporal. Muitas mortes ocorreram antes que medidas de
segurança fossem tomadas, segundo o jornal “The Guardian”.
Tais observações levaram os
pesquisadores Maurice Tainter e Windsor Cutting, da Universidade de
Stanford, a estudar os efeitos do DNP; em 1933 eles relataram que o
metabolismo era estimulado em 50% com o uso da substância. Estoques
de gordura e carboidratos desapareciam, levando a uma perda de 1,5kg
por semana sem que fosse necessária qualquer restrição alimentar.
Os pesquisadores viram o potencial do DNP no tratamento para perda de
peso, mas alertaram sobre os perigos desconhecidos do uso prolongado
e do potencial de superaquecimento fatal com a administração de
altas doses.
Como a perda de peso sem dieta é um
sonho, as observações dos pesquisadores ficaram para trás e, em um
ano cerca de cem mil pessoas tinham tomado DNP nos EUA, através de
vendas sem prescrição ou supervisão. De início a droga parecia
segura, mas conforme o número de pacientes aumentava ou usava por
longos períodos, vários efeitos colaterais foram relatados, como
lesões de pele e uma epidemia de catarata decorrente do DNP. Um
homem literalmente cozinhou até morrer com a temperatura corporal de
43,3ºC. Em 1938 o DNP foi considerado extremamente perigoso e não
adequado para consumo humano.
Em 1948, os bioquímicos W F Loomis
e Fritz Lipmann, da Universidade de Harvard, mostraram que o DNP
interrompe a geração de energia nas células, por isso ajuda a
emagrecer. Em 1960, o médico russo Nicholas Bachynsky conheceu os
efeitos do DNP ao traduzir jornais médicos russos para o governo
americano. Os russos tinham usado DNP para manter os soldados
aquecidos durante o inverno, tendo como principal efeito colateral a
perda de peso. Nos anos 1980 Bachynsky usou esse conhecimento criando
clínicas de emagrecimento com a promessa de perda de peso de até 7
kg por semana. Cerca de 14 mil pacientes fizeram seu programa e
Bachynsky ficou rico.
Reclamações sobre os efeitos
colaterais da droga se acumularam na FDA e surgiram ações legais
contra Bachynsky, baseadas no uso de uma droga não aprovada, mas só
em 1986 uma liminar preventiva foi emitida contra o uso de DNP. Mesmo
assim ele continuou tratando pacientes com DNP até ser condenado por
fraude de seguros e acabar na prisão.
Na prisão Bachynsky conheceu Dan
Duchaine, conhecido como “guru dos esteroides”, preso por vender
ilegalmente estas drogas. Nos anos 1990, já fora da prisão,
Duchaine promoveu o DNP no meio do bodybuilding e
a substância foi ressuscitada mais uma vez.
Paulo Vicente - Personal Trainer
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