O aumento do
sedentarismo nas últimas décadas tem uma relação importante com o aumento da
prevalência de sobrepeso e obesidade, tanto nos adultos como nas crianças. Um
levantamento realizado em Londres mostrou que as pessoas caminhavam 63 milhas a
mais em 1975 quando comparado a 2003, uma redução expressiva do gasto
energético que contribuiu significativamente para o aumento de peso dos adultos
e também das crianças. Atualmente as principais atividades no mundo, e não é só
em Londres, são: dormir, comer, ver TV, jogar no computador e ouvir música.
Em relação à TV já foi demonstrado que ver televisão, independente da idade,
aumenta o IMC, sendo que o tercil que mais aumentou peso foi o grupo que via
mais de 3 horas de TV por dia. O grande problema é que, em geral, ver televisão
está associado com maior ingestão alimentar. Um trabalho realizado no Brasil
mostrou que nos horários em que as crianças vêem televisão é quando as
propagandas são fundamentalmente do grupo de gorduras, açúcares e doces, então,
além das crianças terem um menor gasto metabólico, são estimuladas são
estimuladas a ingerirem alimentos com alta densidade calórica.
Uma avaliação
epidemiológica realizada em Houston, no Texas, com americanos de origem
hispânica, mostrou que tanto as crianças e os adolescentes obesos quanto os
magros tinham condicionamento físico baixo, que era ainda menor nos obesos e
nas meninas. Este estudo ainda observou que as atividades sedentárias
aumentavam com a idade, independente do peso, ou seja, há mudança do tipo de
atividade mesmo que o indivíduo seja magro. Em geral, essas atividades se
modificavam, com a idade, de não estruturadas para estruturadas, o que
significa que as crianças deixavam de brincar para frequentar academia de
ginástica, à medida que ficavam mais velhas. Outro dado interessante mostrado
neste estudo foi o fato de as atividades físicas serem diferentes entre os meninos
(atividades mais intensas) e as meninas (atividades leves e moderadas). As
meninas se socializam por conversas telefônicas, messenger, música, etc, enquanto os meninos preferem os
computadores e os videogames. A atividade física se modifica desde o nascimento
até os 18 anos e, em geral, as meninas fazem menos atividade física do que os
meninos, o que está provavelmente relacionado com os piores resultados em
termos de perda de peso com a atividade física nas mulheres.
Em relação aos fatores
de risco cardiovascular e à síndrome metabólica em crianças e adolescentes, os
estudos mostram que, independente da idade, o número dos fatores de risco está
inversamente relacionado à atividade física e ao condicionamento físico. Este
fato também tem uma relação com o excesso de peso.
Se, por um lado, está
bem claro que o sedentarismo está altamente relacionado ao aumento de peso e ao
aparecimento da síndrome metabólica em crianças e adolescentes, por outro lado
questiona-se se, uma vez estabelecidas a obesidade e a síndrome metabólica, a
atividade física vai ser resolutiva. Há uma grande dificuldade na avaliação da
eficácia, na redução do peso, produzida por atividade física programada
isolada, pois na maioria dos estudos as intervenções são combinadas: orientação
alimentar e atividade física. Em uma meta-análise com a revisão sistemática de
mais de 600 trabalhos, dos 14 selecionados com exercícios supervisionados,
quatro compararam atividade aeróbia com controles; nove compararam os efeitos
dos tratamentos dietoterápicos e comportamentais com e sem exercícios aeróbios
e de resistência. Observou-se uma redução de peso em torno de 2.7 kg, favorável
à intervenção combinada, e de até 4 kg com maior intensidade e duração da
intervenção.
Exercícios feitos de
forma regular resultam em mudança da composição corporal e vários benefícios
fisiológicos e metabólicos. Em um estudo realizado em São Paulo, em intervenção
com atividade física e dieta, por um ano, em adolescentes obesos, observou-se
uma perda de gordura visceral ao longo do tempo, tanto nos meninos quanto nas
meninas. Em Curitiba, estudou a influência da orientação alimentar e da
atividade física (3 vezes por semana), por 24 semanas, em 64 adolescentes
obesos. Observamos redução do índice de massa corporal e redução da
circunferência de cintura tanto nas meninas como nos meninos, porém com
respostas mais importantes nos meninos. Nos adolescentes obesos com síndrome
metabólica, houve diminuição da pressão arterial, dos triglicerídeos, da glicemia,
da resistência à insulina, e aumento do HDL colesterol. Desta forma, podemos
inferir que houve uma redução do número de fatores de risco que compõe a
síndrome metabólica. Ainda neste estudo, observamos que redução da resistência
insulínica estava associada a perda de peso. No entanto, mesmo nos adolescentes
que não perderam peso, com a atividade física houve melhora da sensibilidade
insulínica, provavelmente de corrente do condicionamento metabólico.
Paulo Vicente - Personal Trainer
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